Cuidados Paliativos
UMA NOVA ESPECIALIDADE MÉDICA
Rachel Aisengart Menezes
RESUMO
Este trabalho analisa a construção histórica de uma nova especialidade médica, voltada à assistência de doentes diagnosticados como “fora de possibilidades terapêuticas” ou “terminais”. De acordo com os ideólogos dos Cuidados Paliativos – ou, em designação posterior, a Medicina Paliativa, já caracterizando uma especialidade – esta modalidade de assistência teria surgido no final da década de 60 do século XX na Inglaterra, em contraposição a uma prática médica tecnologizada e “desumana”, na qual o doente é excluído do processo de tomada de decisões relativas à sua vida e, em especial, à sua própria morte. Os Cuidados Paliativos postulam uma forma inovadora de assistência ao período final de vida, a partir de princípios diversos dos de uma medicina preeminentemente curativa. Ainda de acordo com os teóricos desta nova especialidade, a Medicina Paliativa representaria uma ruptura com o paradigma médico hegemônico, centrado na cura da doença, e a retomada de uma prática assistencial interrompida com as novas tecnologias desenvolvidas no século XX. Este trabalho discute e contextualiza a constituição deste campo profissional específico, bem como a ênfase dada à construção histórica pelos principais divulgadores dos Cuidados Paliativos.
Médica, Doutora em Saúde Coletiva (Instituto de Medicina Social/UERJ)
HISTÓRIA DOS CUIDADOS PALIATIVOS:
UMA NOVA ESPECIALIDADE MÉDICA
PONTO DE VISTA DOS PROFISSIONAIS DE CUIDADOS PALIATIVOS:
“A origem dos hospices remonta à Fabíola, matrona romana que no século IV da era cristã abriu sua casa aos necessitados, praticando assim ‘obras de misericórdia’ cristã: alimentar os famintos e sedentos, visitar os enfermos e prisioneiros, vestir os nus e acolher os estrangeiros. Naquele tempo, hospitium incluía tanto o lugar onde se dava a hospitalidade como a relação que ali se estabelecia. Essa ênfase é central para a medicina