crônica
Por Luciano Borges
Em tempo de campanha eleitoral, em mais de um momento ao dia, o público que busca na tevê algum entretenimento ou informação, entre uma coisa ou outra, termina por sofrer ao ouvir e assistir os candidatos falando.
O termo aqui é sofrer mesmo. Porque é sofrível ouvir de um candidato, em rede nacional, coisas do tipo: “eu vou encarar de frente” e “são esses os fatos reais”. O ouvido dói porque não é uma situação de texto falado real. Aliás, quem diz se preparou antes. O que é dito foi antes escrito para a tevê.
No youtube há um vídeo que brinca com a tautologia. O humorista Marcius Melhem, acompanhado de Leandro Hassum, explica à plateia que “tautologia é a repetição de uma ideia na mesma expressão, mas com palavras diferentes, redundância, pleonasmo...”. Mas, brincadeiras à parte, quem foge à convenção, em situações mais monitoradas, assume o risco de não passar uma boa imagem, ainda que deseje deixar mais claro o que diz.
A campanha eleitoral é o lugar do dizer a sério, convicto, persuasivo, a arena em que as vozes se dizem as mais preparadas. Mas, ainda que a campanha na tevê pareça um improviso, efetivamente não o é. Nesse aspecto é uma mentira por parecer sem realmente ser. Na fala real o planejamento e o ato de dizer ocorrem ao mesmo tempo. O que não acontece no texto escrito, porque é um produto que é apresentado pronto. Por isso que é sofrível ouvir expressões como “fatos reais”, “encarar de frente”, cujo contexto mais apropriado é mesmo a comédia, a piada.
É sofrível porque ao mentir que simula uma situação de fala, em um contexto formal, o candidato peca por reproduzir um texto escrito com tantas redundâncias.
Luciano Borges é mestrando em letras pelo Mackenzie