Crônica
Era um sábado chuvoso em um mês de férias, mas ainda assim pingos cobriam o céu da capital. Isso deveria ser um crime. Desci do ônibus pulando uma grande poça até a calçada e fui andando em passos curtos até o lugar marcado. Eu iria encontra-lo, alguém que eu só vira uma única vez na vida, do outro lado de uma piscina, seis meses antes daquele sábado chuvoso. Quando o vi parado ali naquele prédio da asa norte meu estômago ficou tão frio quanto o vento que bagunçava meus cabelos. Deus, como eu devia estar feia! Passei a mão sem jeito pelos fios castanhos e senti o calor da timidez fazer evaporar os pingos que me molhavam o rosto. Ele continuava ali, imóvel, em sua expressão apenas seus olhos haviam se movido, aqueles olhos pretos agora me fitavam, apertados, como quem não consegue enxergar. Ou quem está enxergando muito bem, mas não gosta do que vê. Eu queria sumir. Continuei andando, agora minhas pernas tremiam tanto que se eu não me controlasse elas sairiam correndo de lá, elas estavam gritando silenciosamente para que eu fugisse. Eu não escutei, continuei arrastando-as lentamente e insistentemente como uma mãe faz com uma criança birrenta no mercado. Mas cinco passos em minha frente ele continuava imóvel. Custava algo para esse rapaz dar alguns passos em minha direção? O pensamento de que ele estaria me fazendo de boba me invadiu a mente, eu não iria sempre me dirigir até ele como se fosse meu dono, não, eu não andaria atrás dele no shopping, não levaria cervejas para ele enquanto nossos filhos bagunçam tudo! Fechei a cara, parei de súbito. Ele sorriu. Ele sorriu e me deu 32 brancos motivos para eu continuar andando. Eu já não sentia mais os pingos que caiam do céu – talvez por estar sob o teto do bloco, mas eu preferia acreditar que foi aquele sorriso. – o vento que batia em meu rosto agora já não era mais frio, era quente, tinha cheiro de grama molhada, tinha o som de uma linda canção. Eu me senti linda. Ele era lindo, e