Crônica

Thais Marques
Crônica
A pequena incendiária

"O Balu era feio, por isso eu matei ele." Essa foi a minha explicação após a tragédia.
Ápice dos meus 4 anos de idade, época em que tudo era novo e a curiosidade corria pelas veias. Crianças, doces crianças. Dizem que a curiosidade matou o gato, não é? No meu caso, a curiosidade matou o Balu.
Balu era o nome do urso de pelúcia mais feio que já existiu. Ele foi rejeitado por dois dos meus primos, passou pelo meu irmão, que também não simpatizava com o bicho, e acabou em minhas mãos. O coitado era realmente feio, tão feio que me parecia crime presentear uma criança com aquilo. Eu nunca tive medo daquela aberração, apenas o achava feio - realmente feio. Lembro-me perfeitamente daquela pelúcia desajeitada, olhos escuros e fundos, com cara de mau. Acho que até mesmo meus outros ursos se sentiam incomodados com a presença de Balu.
Inverno de 1998. Aquecedor, cobertas e O Rei Leão. Parecia o cenário perfeito para um crime. Costumava passar as tardes frias de Julho na sala, com meu irmão mais velho. Bons tempos em que meu irmão era torturado e obrigado a assistir O Rei Leão todos os dias. Foi em uma dessas tardes de Hakuna Matata que eu planejei a morte de Balu. E executei. Enquanto meu irmão cochilava, mirei nos olhos do pobre urso e o peguei pela orelha. Cuidadosamente me aproximei do aquecedor brilhante, encostei a cabeça de Balu o aquecedor e observei queimar. Quando o fogo chegou perto o suficiente para eu sentir uma leve queimação, soltei o urso e continuei a olhar minha obra. Não demorou muito para que eu ouvisse gritos e confusão.
Meu irmão salvou o dia, levando os restos de Balu para o quintal, evitando um possível incêndio da casa. Pessoalmente eu não entendia o alvoroço, afinal, ninguém gostava do urso mesmo. O importante é que meu trabalho estava feito. Eu descobri que o aquecedor realmente queimava, e, livrei o mundo de um urso de pelúcia feio. É claro que eu peguei gosto por fogo desde então, e até