Crônica Mais uma Quarta

Mais uma quarta-feira. Nem início, nem final da semana. Dia de pôquer.
Quarta é o único dia que Plínio e eu temos aula pela manhã. Quer dizer, o único que eu tenho aula pela manhã. Plínio deve ter todos os dias, pois é a pessoa que mais tem aula que eu já vi.
A rotina da carona não tem erro: primeiro um toque no meu celular. Nem chega a tocar de verdade, é mais um alerta de que ele acaba de entrar na minha rua. Enquanto faz a volta na frente da minha garagem vazia, eu tranco a porta com um sanduíche na boca e outro na mão. Plínio sempre faz o esforço de esticar-se todo até o outro lado do carro, amarrado em seu cinto de segurança, para destravar a porta para mim. Eu entrego um sanduíche a ele e então rumamos à faculdade, cada um com sua respectiva refeição.
Não perdem tempo, as migalhas de pão, que tratam de nos empanar da cabeça aos pés. Isso seria resolvido, como sempre, ao desembarcar do carro, na vaga remanescente pessoal do Plínio. Ela sempre é uma das únicas vazias do estacionamento da faculdade, onde o vento faz a curva.
Plínio esticou novamente o braço, desta vez o esquerdo. Ele pescou o controle remoto do som e o entregou para mim.
- As ondas sonoras não atravessam morros.
Já falei mais de uma vez, mas Plínio insiste em rejeitar a playlist do meu ipod.
- E aí, quê temos para hoje?
Ele não se segura.
- Temos o Rafael da matemática e o Rafael da ambiental, o Lucas do direito e outro da biologia, o Edu, o Carlos, o Pedrinho, o Marcão, o Beto, eu, você, o César e o Daniel.
- Mais de 10 confirmados?
- Treze confirmados. Ou você quer dar para trás?
Plínio deu um sorriso amarelo. Ele não precisava dizer nada para eu entender o significado daquele sorriso.
- Você vai precisar ganhar de 12 pessoas hoje para não perder o primeiro lugar no nosso ranking.
- Desde que você não ponha tudo a perder e resolva me caguetar todas as rodadas.
Assim como ele não precisava me dizer nada sobre qualquer coisa, não precisava me dizer muito de suas