Crônica do cotidiano político
Ana Nery
Comemorar a impunidade. Como entender isso? Vemos pessoas contaminadas pelo mar de lama, comemorar a impunidade, como se isso fosse uma coisa positiva. Risos, gargalhadas, discursos cínicos na imprensa e um bocado de idiotas saindo por aí, sem saber nem a dimensão desse absurdo, achando bonito e dizendo: viu, fulano teve as contas aprovadas, fulano é poderoso mesmo. É, realmente fulano é muito poderoso, tem poder para se safar das falcatruas que faz, tem poder para sair por aí negociando uma operação abafa pra seus roubos, poder para conseguir quem esconda e passe por cima de sua desonestidade. Quem foi que cometeu a insanidade de pensar que o fato de alguns gatos pingados resolver aprovar a desonestidade, é prova de inocência?
Ficamos pensando aqui, será que o povo está comemorando, achando que fulano provou sua inocência? Ou será que o povo perdeu o senso e o prumo a tal ponto, que comemora é o fato de mais uma vez, terem passado a perna na justiça, ou melhor, de mais uma vez, a justiça ter passado a perna no povo?
Como se concebe contas aprovadas por esse Brasil afora, de candidatos que declararam doações de empresas que nem existem mais? De candidatos que declararam doações de pobres assalariados e até desempregados, que sequer têm o que comer em casa e aparecem doando quantias que sequer um dia tiveram o gosto de contar no seu dia a dia? Esse tipo de coisa é pra comemorar? Ver o povo lesado pela milésima vez, é motivo de satisfação? Será que as pessoas perderam totalmente a dignidade e a hombridade moral, a ponto de aceitarem a corrupção como normal, a ponto de banalizarem a desonestidade? Impunidade não se comemora, minha gente. Impunidade deve ser lamentada e combatida. Você acha bonito o político que você votou ser esperto? Mas a esperteza dele transforma você em um otário, um bobo da corte, um mané, a quem esse político jamais