Crónica, Português
“Emília, meu amor
Escrevo-te esta carta porque um dia vais precisar de a ler e eu vou precisar que a leias para mim.
Eu esqueço-me constantemente de tudo, eu mudo e muitas vezes não faço sentido. Só peço a Deus que pelo menos me dê forças para não me esquecer enquanto de escrevo esta carta. Sei que se me esquecer vou ficar a olhar para ela e vai ser apenas uma mera folha de papel na minha mão., porque está para breve eu não me lembrar mais de quem sou.
Vou deixar de saber o que é viver antes de morrer. Não acreditas em destino? Eu acredito, e a vida escolheu este destino para mim, mas escolheu para antes de tudo isto ser um marido feliz e um pai orgulhoso da família que criou. Por isso não estou desiludido com a vida que me calhou e aceito o fim que esta escolheu para mim. Só tenho que aceitar, sabes meu amor.
Não precisas de ficar triste, nem sofrer por mim, eu não vou sofrer, acho que nem me vou lembrar do que é isso. Tu e as nossas meninas estão bem e tu para além disso ainda és forte, só te peço para não sentires nada para além de amor por mim.
Sabes qual o meu maior medo? É de te privar da tua vida, deixares de viver só porque eu também deixei de o fazer. Não saíres só para tomares conta de mim com medo que faça algum disparate como se fosse uma criança outra vez. E ainda temo mais que eu dia, me deixes de amar mas continues ao meu lado só porque fui a pessoa que amaste tantos anos, mesmo tendo mudado e essa pessoa ter desaparecido. Mas eu sei que nunca desistirias de mim, pois nunca desisti de ti. Um dia perguntaste porquê tu, porque escolhi ficar do teu lado, com tanta mulher linda atrás de mim o que vi eu em ti. Nunca desistirias de mim, nunca me deixarias e abandonarias. Queres maior beleza que isso? Maior e melhor razão?
Sei que serei o homem mais sortudo do mundo, porque nunca a comida que te levei à cama irá compensar as vezes que me irás dar a comida à boca, nem as quantidade de vezes que te reconfortei irão compensar a