Cruzando Oceanos
Que fazer para disfarçar a saudade de uma amiga que vai embora para outro país?
Fumar?
Não, não acho uma boa ideia. Nunca fumei e não seria agora hora de começar. Vivo muito bem sem a fumaça dos cigarros. Não me vejo com um deles entre os dedos, engolindo fumaça ofensiva à saúde dos meus pulmões.
Beber?
Pode ser. Bebo socialmente, alguns goles de cerveja. Gosto daquele líquido absurdamente gelado e de sabor peculiar. Mas, no momento, não posso. Estou tomando alguns antibióticos e o médico chato me disse: “Nada de álcool, por enquanto. Ele pode tirar o efeito do medicamento, ou reduzir a sua eficácia”. Para meu próprio bem, resolvi obedecê-lo.
Ignorar a realidade?
É uma boa ideia? Fingir que não está acontecendo nada, que a viagem próxima não está nos afetando em nenhum sentido. Pensando bem, não é uma boa ideia. Definitivamente, não é. Posso enganar minha razão, meu lado racional, mas meu coração, meus sentimentos, esses são difíceis de serem logrados.
Ler um livro?
Eis uma boa ideia. Um pouco de poesia vai bem, afinal, se amizade não rima com poesia, harmoniza-se muito bem com ela, como notas da mesma canção: A canção da vida. Percorro os olhos pela estante... Vinicius de Moraes... Drummond de Andrade... Pablo Neruda. Meus dedos tocam o livro de Neruda. Meu coração o folheia. Meus olhos leem o poema escolhido pelo sentimento:
Sê
Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.
Deixo os meus olhos vagarem no horizonte que se descortina à minha frente. Deixo meus pensamentos navegarem no mar de emoções que me domina. Quantas desculpas nós