Crianças abandonadas

1212 palavras 5 páginas
Nos meios acadêmicos brasileiros, a Demografia Histórica é freqüentemente identificada aos excessos dos métodos quantitativos e à ausência de problemáticas definidas. Ao longo de sua prolífica vida acadêmica como professora, pesquisadora e, principalmente, como autora dos primeiros e principais trabalhos de Demografia Histórica do Brasil, Maria Luiza Marcílio só fez desmentir tais estereótipos. Nos anos 60, ao ingressar no doutorado na França, foi orientanda de Fernand Braudel e, posteriormente, de Louis Henry, o que lhe possibilitou transitar com facilidade entre a História Social e a Demografia Histórica. Da mesma forma que em trabalhos anteriores, como A Cidade de São Paulo ou Os caiçaras, seu livro História Social da Criança Abandonada é um exemplo de como a sensibilidade e até mesmo o envolvimento afetivo com um tema podem andar irmanados com seriedade e rigor metodológico. Marcílio sensibiliza-se com o destino trágico de milhares de crianças que desde a Antigüidade foram abandonadas por seus familiares; emociona-se, contudo, sem resvalar para uma história militante, tão propícia a anacronismos e perspectivas vitimizadoras.

O livro História Social da Criança Abandonada dividi-se em três partes, obedecendo assim a uma arquitetura cara à autora: o desenvolvimento da narrativa histórica do geral para o particular. Segundo Maria Luiza Marcílio, é possível detectar a permanência, durante vários séculos, de uma preocupação com a proteção da criança "sem-família". No que diz respeito a tal proteção, é importante sublinhar que, na Antigüidade, a confluência do estoicismo com o cristianismo diferenciou Roma das demais sociedades. Durante a Alta Idade Média, a preocupação com o destino dos enjeitados foi institucionalizada: os mosteiros, procurando erradicar o infanticídio, aceitaram os oblatas, ou seja, enjeitados que deviam seguir a carreira sacerdotal. No século XII, a emergência da crença no Purgatório e de sua versão mirim, o Limbo, expandiu para o restante da

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