Costa e Silva
INTRODUÇÃO:
A ditadura militar implantada em 1964 colocou no comando da política econômica os melhores representantes do pensamento econômico conservador.
O movimento da política econômica, mesmo durante o período de consolidação e fortalecimento do regime, de forma alguma circunscreveu se a um roteiro definido em suas linhas básicas já em 1964. Um retrato mais exato do processo então iniciado deve acentuar as descontinuidades que caracterizaram aquele movimento — o que, entenda-se, não elimina o reconhecimento da existência de elementos de continuidade (dos quais o tratamento dispensado aos salários certamente é o mais conspícuo).
Em sua primeira fase, durante o governo Castello Branco, a política econômica teve na prioridade explícita e enfática conferida ao combate à inflação o seu traço distintivo. Na ótica do PAEG (1964-1966), a crise econômica com que o país se defrontava, manifestada com força em 1963 e inícios de 1964, tinha a sua raiz na inflação. Retomar uma trajetória de desenvolvimento sustentado estaria na dependência de êxito na reversão firme do processo inflacionário: somente assim um acúmulo de disfunções responsáveis pelo declínio da atividade econômica seria eliminado, recriando-se as condições adequadas à maturação plena do potencial de crescimento de uma economia de livre iniciativa.
Para os tecnocratas conservadores a ditadura representou uma oportunidade extraordinária para a aplicação de sua orientação pretensamente racional e eficiente à política econômica, uma vez suprimidas de um golpe quaisquer propostas alternativas enraizadas no nacional-desenvolvimentismo e as possibilidades de mobilização popular em seu apoio. A face austera exibida pelo regime durante o governo Castello Branco por um momento descortinou um horizonte favorável à implementação duradoura desse enfoque para a política econômica, estendendo-se pelo tempo que fosse necessário à obtenção de