Correntes migratorias portuguesas
Análise
Social,vol.
XXIX
(128),
1994 (4.°), 959-980
As correntes emigratórias portuguesas no século xx e o seu impacto na economia nacional**
INTRODUÇÃO Em Portugal a emigração é um fenómeno permanente desde há alguns séculos, mas as correntes migratórias que a constituem são temporárias e apresentam características específicas. A diversidade das correntes migratórias portuguesas, nomeadamente durante este século, é facilmente documentável. Observa-se, por exemplo, na passagem, em meados dos anos 50, de fluxos maioritariamente intercontinentais a predominantemente intra-europeus e novamente, a partir de finais dos anos 70, a intercontinentais; na passagem de correntes essencialmente compostas por emigrantes trabalhadores para predominantemente compostas por familiares de trabalhadores migrantes entre 1978 e 1985 e novamente, nos últimos anos, no retorno à dominância da componente trabalho. Recentemente, temos vindo a assistir a mais uma modificação de vulto: a emigração portuguesa, que até 1985 foi essencialmente constituída por migrantes permanentes, é hoje maioritariamente composta por migrantes sazonais ou a prazo1. Assim, por exemplo, dos 174 000 emigrantes que saíram de Portugal entre 1986 e 1988, 35 000 eram permanentes e 139 000 temporários (Baganha, 1994). A constância do fenómeno migratório em Portugal pode atribuir-se à permanência de profundas assimetrias regionais no país e à existência de desequilíbrios geoeconómicos entre Portugal e os sucessivos países de destino. O primeiro desequilíbrio permite explicar a manutenção do fenómeno, independentemente da evolução económica verificada a nível nacional; o segundo desequilíbrio assegurou a existência de vantagens comparativas nas regiões receptoras, conferindo racionalidade económica à decisão de emigrar ao longo do tempo2. Uma das questões mais interessantes que a análise dos fluxos migratórios nacionais permite levantar é a do impacto da emigração portuguesa