Corpos de pasagem
1. Sócrates e o peso do corpo
"Por vezes, a necessidade de desacelerar e de viver lentamente é inconsciente, involuntária, ou considerada 'dentro do ritmo normal'. O adjetivo lento resulta de comparações e é fruto de medidas, sempre culturalmente determinadas, historicamente sujeitas a modificações inusitadas. Quando a histórica conquista da velocidade cria novas lentidões como se estas fossem somente seus opostos, todo o peso material tende a ser percebido como mero obstáculo a ser ultrapassado, aniquilado. O peso do corpo é um deles. Sócrates já havia sido porta-voz de um antigo sonho: escapar da resistência da matéria, pois "o corpo nos causa mil dificuldades". (p. 19)
2. Corpo fronteira
"Foi necessário, igualmente, transformar o corpo num território privilegiado de experimentações sensíveis, algo que possui uma certa inteligência que não se concentra apenas no cérebro. Foi preciso, ainda, libertá-lo de tradições e moralismos seculares, fornecer-lhe um status de prestígio, um lugar radioso, como se ele fosse uma alma. Desde então foi fácil considerá-lo uma instigante fronteira a ser vencida, explorada e controlada." (p. 70)
3. Economia do corpo
"...a economia está bastante interessada na realidade corporal, sobretudo em nossos dias. Alguns economistas chamaram a atenção para essa vocação do capitalismo atual de investir em 'três esferas infinitas': a gestão da sociedade, a reprodução da Terra (ar, água, vegetais) e a reprodução do humano. O interesse econômico que o corpo desperta deveria servir para esclarecer à sociedade quais são os grupos que ganham e quais são os que perdem com a transformação das diversas partes do humano em equivalentes gerais de riqueza."(p. 74)
4. Dolly e o prazer sexual
"Se com a pílula anticoncepcional conquistou-se o prazer sexual sem a reprodução da espécie, com as novas tecnologias conquista-se o direito de reproduzir sem prazer sexual. A inovação exposta na experiência que gerou a ovelha Dolly comprova que