Corpolatria
Prof. Sandro N. Prudêncio.
“CORPOLATRIA”
Extraído de:
GONZÁLEZ, Fernando J. & FENSTERSEIFER, Paulo E. (orgs.). Dicionário Crítico de Educação Física. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2005. pp. 101 e 102.
Corpolatria é um neologismo criado por Wanderley Codo e Wilson Senne para caracterizar um processo de alienação típico da sociedade capitalista, particularmente em sua expressão pós-industrial.
Partiu-se, no livro “O que é corpo(latria)?” (1985), da constatação de que o culto do corpo, que ocupa muito da atenção da classe média contemporânea, tem todas as características de uma religião: Uma religião carece de milagres, a Corpolatria tem milhares a oferecer: o sexo liberta-se dos preconceitos, “Conhece-te a ti mesmo” (máxima que nos persegue desde Sócrates) está à disposição na livraria da esquina. A cura de qualquer doença depende apenas da escolha da hortaliça certa para o sintoma certo, ou nem isso, do toque correto no ponto correto do dedão do pé esquerdo. Se tudo isto não lhe bastar, tenha um pouco de paciência que os milagreiros da copolatria estão atentos, logo descobrirão um novo gingado de quadris capaz de alcançar o Nirvana.
Na religião, milagre exige sacrifício, e a Corpolatria não pode deixar por menos; se quiser alcançar a graça pretendida, você terá de se submeter a penitências: suar horas seguidas diante do espelho, estirar os músculos sem gemer de dor, emplastar os cabelos com vaselina colorida e continuar sorrindo, mastigar cem vezes (nunca 99 ou 101) um arroz duro e insosso, jejuar... Basta, pois nem os cristãos foram de ferro.
A Corpolatria dispõe de templos, como só acontece com as religiões, e também de adeptos aos milhares, todos devidamente a caráter; uns de tênis e shorts, outros de bata indiana e calças anchas, tudo depende da seita. Na nova religião só não existem os santos: por se desenvolver no meio urbano, a Corpolatria carece ser ágil, optando por dotar os templos com muitos espelhos, pois assim