CONVERSAS PARALELAS

CONVERSAS PARALELAS
Malu de Oliveira -- Publicado no site da Willis Harman House em 2004

- Vocês também aceitam adultos aqui?

Algumas frases parecem ter a função de abracadabra. A pergunta acima, dita pela mãe de um menino delinqüente a um jovem psicólogo em 1932, numa instituição estadual dos Estados Unidos, promoveu o insight para o rapaz virar de ponta-cabeça suas crenças e fundar um dos pilares, senão o pilar, da psicologia humanista.

Carl Rogers, então psicanalista freudiano, tratava dessa criança segundo as melhores práticas da época. O caso era particularmente difícil. Uma das inúmeras entrevistas com a mãe terminou de maneira melancólica, constatando ambos que não havia solução. Ela foi saindo em direção à porta, deixando o pobre profissional desesperançado e deprimido, e resolveu voltar para a cadeira, fazendo a pergunta como se brandisse uma varinha de condão.

Rogers, contrariando as normas, respondeu que sim. E começaram uma conversa em novas bases. Não havia mais um profissional inquirindo a mãe do paciente. Era uma mulher mostrando seu desespero para outra pessoa. Ele abandonou qualquer conhecimento técnico e simplesmente ouviu de coração aberto. O tratamento da criança continuou e, para espanto de todos, teve ótimos resultados.

O que a pergunta reverteu, se eram as mesmas pessoas, no mesmo lugar?
Reverteu pressupostos, apagou papéis, reorientou atitudes, desatou conteúdos, mudou a realidade.

Nós falamos para influenciar alguém. E é tão simples formar frases, que a gente nem percebe direito o que está fazendo. Entretanto, há uma coordenação sofisticada e mais ou menos consciente de músculos, regras gramaticais, vocabulário, emoção, respiração, traços culturais. As coisas são tão unidas que mal dá para separar quando queremos pensar em um aspecto isolado. Essa riqueza infinita nos permite expor e negociar desejos e necessidades.

Permite-nos, por outro lado, garantir que a realidade não seja modificada. Atitudes, às vezes