contribuições de w. benjamin
Benjamin não foi um cientista social no sentido estrito. Além disso, escreveu de forma pouco sistemática, num estilo propositadamente fragmentado e alegórico, utilizando poucos conceitos e muitas imagens literárias. Reconhecemos que seus críticos têm razão quando o acusam de ter sido dispersivo e muitas vezes incoerente. Mas também é preciso reconhecer que poucos pensadores sociais tiveram igual sensibilidade para observar o cotidiano da modernidade e decifrar as personagens da metrópole. Como o próprio Benjamin disse, ele tinha um interesse especial por aquilo que outros intelectuais classificavam como "lixo". E foi assim que ele antecipou a reflexão crítica sobre a fotografia, o cinema, as miniaturas, os brinquedos, a poesia, o flâneur, o ópio, a prostituta - assuntos e personagens considerados "irrelevantes" ou "indignos" por muitos de seus contemporâneos.
Redesenhar a cidade para redesenhar a sociedade: foi com esse princípio que Luís Napoleão, com o título de Napoleão III, inaugurou em 1852 o Segundo Império francês, determinado a acabar com as revoltas populares que até então eclodiam com frequência em Paris. Como conter as barricadas que ameaçavam a ordem social tão almejada pelo novo imperador? A resposta foi buscada no urbanismo: Paris sofreria uma reforma radical, deixando para trás os muros e as ruas estreitas da cidade medieval para ostentar avenidas largas dotadas de iluminação noturna, o que facilitaria o controle policial. A cidade se transformaria em nome de princípios como organização, harmonia, racionalidade e, principalmente, modernidade. Quando aportamos com Benjamin na Paris do século XIX, testemunhamos o surgimento de novos valores e novos padrões de convivência. Ele chama nossa atenção para os grandes eventos históricos - são bastante duras suas críticas ao governo "falsificado" de Luís Napoleão -, mas também para pequenos detalhes que são reveladores. Conta-nos, por exemplo, que em1824 somente 47 mil