Malagueta, Perus e Bacanaço é o primeiro e mais estudado livro do escritor paulistano João Antônio, publicado em 1963 atingindo imediatamente sucesso de público e crítica. Trata-se de um conto longo, dividido em seis partes que recebem os nomes dos locais por onde passam os personagens: Lapa, Água Branca, Barra Funda, Cidade, Pinheiros e, por último, e de novo, Lapa. A narrativa transcorre em uma única noite, num bar, no velho salão de sinuca onde se encontram três parceiros e apresenta o submundo das classes periféricas, os desassistidos pela sociedade, juntamente com suas particularidades, ou melhor, seus problemas. Pormenores eficientemente mostrados por alguém que vivencia, de perto, cada fato, os costumes típicos dos seres que escolhe como personagens e os transporta à literatura, reproduzindo-os com a sabedoria de um eminente criador artístico. E através deste que figuras como Paraná, do conto “Frio”, são trazidas ao conhecimento dos leitores como típicos vadios que perambulam por diversos ambientes e fazem da picardia, da malícia e da trapaça seu meio de vida, seu modo peculiar de “trabalhar”.Sobrevivem à sua maneira, burlando a fome, a falta de dinheiro e demais infortúnios, como os policiais ou malandros mais talentosos.Neste o autor se faz “um verdadeiro descobridor”, na medida em que adentra o mundo dos excluídos, dando a ver, pela linguagem, uma realidade até então oculta, desconhecida para os leitores, vale dizer, para os membros da camada privilegiada. As narrativas são flagrantes vivos da vida de determinadas camadas populares de São Paulo, tudo construído pela imagem da cidade grande, com o vento frio, com as suas ruas tortuosas e suas instituições fustigando os seus marginais. Nas narrativas vemos as personagens passar tocados, de vez em quando parando ali no bar deserto, quando todos os cautelosos do mundo estão dormindo, àquela hora da manhã.Um reflexo da realidade urbana, dramática que à primeira vista não se consegue enxergar no dia-a-dia