contos novos
As narrativas de Contos novos podem ser divididas em dois grandes grupos, de acordo com o foco narrativo. Assim, temos quatro contos narrados em primeira pessoa (“Vestida de preto”, “O peru de natal”, “Frederico Paciência” e “Tempo da camisolinha”) e cinco em terceira (“O ladrão”, “Primeiro de maio”, “Atrás da Catedral de Ruão”, “O poço” e “Nelson”).
O traço comum aos contos narrados em primeira pessoa é a presença de um mesmo narrador, Juca. Sua personalidade é formada a partir de experiências marcantes de rejeição e luta contra a repressão. Das primeiras, destaca-se a relação adolescente com a prima Maria de “Vestida de preto”. Das segundas, mais marcantes, os exemplos se sucedem. Entre as imagens da repressão, ganha destaque a figura paterna, que aparece em “Tempo da camisolinha” obrigando o narrador a podar as madeixas – alegoria simples da castração.
Em “Peru de natal”, o pai, já morto, ainda representa a instância capaz de anular a celebração e a liberdade. A fama de louco que Juca adquire com o tempo é uma reação ao rigor familiar e superá-lo representa a deglutição paterna de que trata Freud.
A oposição entre prazer e repressão, no entanto, nem sempre tem final feliz: a relação com Frederico Paciência termina sem conclusão e sem nome porque as barreiras sociais e psicológicas são fortes demais para Juca. Mas o desejo de libertação pode também ter fornecido as bases para a estética não convencional que o narrador manifesta nos contos em sua linguagem marcada pela oralidade.
Nos contos narrados em terceira pessoa, duas imagens sobressaem: de um lado, a solidão; de outro, a solidariedade. Solitário é Nelson, do conto homônimo, cuja identidade se limita ao título, já que no corpo da narrativa ele não tem nome e nem sequer uma história precisa. Sua condição se acentua