CONTOS INFANTIS
F
ui apresentada aos contos infantis pela minha mãe. Não, ela não tinha livros de histórias! Ela simplesmente as contavam “ de cor”.
Na minha tenra idade, meu pai e meus dois irmãos mais velhos saiam para trabalhar em uma fazenda distante do senhor Eduardo, ficavam semanas fora de casa. Finalmente meus irmãos e eu podíamos dormir na cama com mamãe, que delícia!
Então reunidos em cima da tarimba ( era assim que se chamavam as camas fabricadas manualmente com paxiúba) e iluminados por uma luz fraca de lamparina,( permita-me leitor, explicar: Um pequeno artefato produzido manualmente com lata, tendo como pavio um pano e combustível, querosene). Era nesse cenário que minha imaginação, já tão criativa, era aguçada.
Lembro-me nitidamente da história da princesa mimada que mamãe contara repetida vezes: Ela apontara o dedo para um lindo homem, mesmo casado, o escolhera para seu marido. O pai,, para satisfazer sua vontade, mandara matar a esposa do escolhido, assim, viúvo, seria livre para casar-se novamente.
A história tomava forma, cores ainda mais, quando mamãe cantava a triste música da mulher que morreria para doar seu marido à princesa. Ao passar o último dia de sua vida com os filhos, a triste mãe cantava: Brinquem, brinquem meus filhinhos, hoje tens pai e mãe, amanhã, pai e madrasta come, come meus filhinhos, hoje tens pai e mãe, amanhã, pai e madrasta dorme, dorme, meus filhinhos...
A história acabava aí, meus irmãos se conformavam, eu não! Fazia mamãe continuar, criar, recriar, quando não podia mais, minha imaginação entrava em ação...
Se é uma memória ou uma crônica essa minha lembrança? Fica à gosto do leitor.
Sempre temi que com o voar do tempo, à medida que crescesse, minha imaginação rareasse e por fim, cessasse. Mas não! Agora mesmo há um pássaro azul no gradil da minha área de serviço me convidando para uma nova aventura...
Izabel de Brito Silva
Porto Velho, 31 de dezembro de 2014
18 h 04 m