Conto

A verdade quando vem a tona mesmo que posta em vaidade, faz ausente o mistério que assombra, dissipa a névoa que envolta fatos antigos e torna claro aquilo que um dia foi turvo. Estava eu em um desses bares que um dia foram de épocas da praça Pedro II, ruminando um amor que me foi apresentado como verdadeiro, bebia solitário, quase que em vão, pois a bebida vinha em um amargo que me crispava o rosto. E para que mistério maior do que aquela praça de nome imperial, onde nela há tanta ventura errante, ela que outrora foi vanguarda, hoje é contemporânea. O coreto que um dia foi palco de outros poetas, hoje sedia encontros noturnos quase que banais. Eu via escritores transeuntes, eu via Torquato Neto sendo Tropicália. Eu via o sofrimento passando fome, e as torturas subterrâneas naquela praça central. Eu ali quase que nouveau preso em trincheiras de um amor que também tortura, que judia.
Bebericava meu vermute quando ouvi alguém chamar meu nome, virei-me e dei com os olhos em Teresa Cristina, frisei com a vista para poder ter certeza daquela aparição inusitada. Sim, era ela, a imperatriz, a mesma que foi casa com Dom Pedro II, mãe da princesa Isabel e D. Leopoldina, cumprimentei-a com um forte e longo abraço, aquela senhora histórica diante de meus olhos, mas como, como ela chegou até a mim, em sonhos as avessas me perdi? Não sei, mas ela era real, tinha cheiro e toque, sua voz era de fato demasiadamente doce, ela que sutilmente falou de cousas alegres, deu para revelar o sonho de sua infância: Estava ela a correr e a brincar pelas ervas quando teve um sonho como uma fotografia, era real demais para ser devaneio de um sono qualquer. No sonho ela era um jovem muito pobre, e o rei da cidade havia se apaixonado por ela