Conto nenhum, nenhuma-guimarães rosa
No conto Nenhum, Nenhuma, a indefinição do espaço se articula com a questão do tempo, na medida em que todas as referências a espaços indefinidos misturam-se à memória perdida que o narrador tenta recuperar; o que ele talvez resuma da seguinte forma: As lembranças são outras distâncias....
A narrativa inicia com o trecho: Dentro da casa-de-fazenda, achada, ao acaso de outras várias e recomeçadas distâncias, passaram-se e passam , na retentiva da gente, irreversos grandes fatos – reflexos, relâmpagos, lampejos – pesados em obscuridade.
A procura pelos fatos da infância que “passaram e passam-se” constitui uma tentativa de descobrir uma verdade misteriosa e inacessível, que se articule e modifique o presente, lançando novas luzes ao futuro.
O narrador do conto narra em primeira pessoa, com a cumplicidade explícita de sua memória, uma das personagens principais dessa história, tentando também compreender os dilemas que envolvem a aproximação da morte.
O narrador rosiano caminha como se estivesse perdido no labirinto de suas lembranças, encontrando as saídas após um árduo e doloroso esforço. Ao longo de sua odisséia, ele enfrenta a tensão entre a memória e o esquecimento, no resgate do passado, que não retorna em sua pureza original, mas é fruto de uma singular seleção dos fatos lembrados.
O narrador faz um enorme esforço de memória, que tanto pode ser entendido com a recuperação de um sonho, ou uma regressão psicanalítica ou até terapia de vidas passadas.
Tudo o que consegue relatar, de forma nebulosa, imprecisa e fragmentada, é que está de visita em uma casa, em que havia um moço e uma moça que se amavam. Havia também uma velha de idade tão avançada que nem havia mais noção de como chegara ali. Essa idéia é o motivo dos dois jovens não poderem ficar juntos, pois a moça precisa cuidar dela.
Desfeito o relacionamento, o menino é levado para sua casa pelo moço. O garoto vê o sofrimento do jovem. É um amor forte.