Contabilidade social
Vivemos numa sociedade de quantidades, de números, que imagina que conhece ou pode conhecer tudo, rigorosa e exatamente. Quanto mede, quanto pesa, quanto custa e quanto vale são as perguntas mais importantes.
A melhor resposta pretende sempre ser a chamada resposta “racio nal”: qual a melhor alternativa para plantar batatas, educar crianças ou abrir estradas? Qual a forma mais efi ciente, isto é, que produz mais com o menor custo? “Racional” acaba por ser sempre a “razão” entre dois números — a receita e o custo.
Para muitas perguntas não existe resposta única. Mas a decisão e os argumentos são pesados e avaliados pela força dos números. A opinião oposta é acusada de
“irracional”, “inefi ciente” ou muito cara.
A contabilidade é a língua usada nessa discussão sobre quase tudo. Os dados contábeis, o “resultado abaixo da linha”, os lucros são a resposta fi nal, o “cala-boca” irretorquível, contra o qual parece não haver argumentos.
Mas as coisas não são assim. Em contabilidade, como em matemática, estamos apenas organizando e interpretando coisas, decisões, empresas, administrações públicas e privadas, e fazemos isso sempre a partir de um ponto de vista inicial, de hipóteses escolhidas entre diferentes alternativas.
Isso acontece na empresa privada, na auditoria, nas contas públicas. Vejam a contabilidade dos bancos brasileiros que acabaram sendo fechados ou vendidos depois das intervenções do Banco Central. Em muitos casos houve fraude, impossibilidade de revelar a “verdade”. Mas também existem casos de interpretações alternativas: qual é o crédito que realmente não vai ser pago? Quanto vale, de fato, aquela posição de ações?
Se existem interpretações alternativas na contabilidade privada, imagine-se quando estamos medindo as variáveis econômicas agregadas de um país? Infl ação, produto nacional, desequilíbrio no balanço de pagamentos, défi cit público...
Basta lembrar que, nas diversas negociações do Brasil com o FMI,