Construção do Gênero na escola
Ileana Wenetz
Marco Paulo Stigger
Apresentação
Pátio, sol, sirene, dez e quinze, gritos, corre-corre, risadas, quadras, lanche, bebedouro, chutes, salgadinhos, conversa, pas-seio; funcionário olhando as crianças, camisetas, corda, segredinhos, futebol, mochilas, jogo de mãos, empurra-empurra; uma menina arruma o cabelo, outras duas fofocam, bola para cima e para bai-xo, ventinho na cara, um menino amarra o cadarço, uma professora atravessa rapidamente o pátio; alunos e alunas sentados nos ban-cos, passa outra professora, meninos brincam com fichas no chão, filas, descanso, passam duas professoras, muitas vozes juntas que não permitem ouvir ninguém, dois meninos se empurram e um terceiro fica olhando; no canteiro, crianças estão sentadas enquan-to outra turma joga basquete na quadra; dois adolescentes passam caminhando, uma menina caminha até a porta, outras duas passam correndo de mãos dadas, uma menina tapa os olhos da colega, deixa-se ver e sai correndo com sua amiga atrás; minissaias, abrços, celular, boneca, funcionária xingando...
Alguém reconhece esse momento? Esse espaço fez/faz parte do quotidiano de muitos de nós, seja na época em que éramos esco-lares, seja como profissionais. E, como se pode ver na descrição acima apresentada, ele é, também, um espaço muito rico em relação à complexidade de cores, sons, sinais, ruídos, situações e significa-dos. O recreio é um momento em que se misturam as vozes das crianças com suas risadas e gritos estridentes, com as das professo-ras e suas advertências e chamadas de ordem. Neste contexto, baru-lhos misturam-se num som contínuo, mas a sirene, sempre altíssima, repentinamente cala-os todos. É também assim que a escola vai marcando o seu próprio som, seu próprio ritmo, sua regularidade, a hora da entrada e da saída, a hora de fazer fila....
Mas também existem silêncios no recreio, o das vozes que não se ouvem. Quem não fala ou fala e se confunde com as outras