CONSTITUIÇÃO E DESDOBRAMENTOS DA NOÇÃO SUBJETIVIDADE NA MODERNIDADE
Nosso modo atual de entendermos nossa experiência como indivíduos autônomos não é natural nem necessário, mas sim parte de um movimento de amplas transformações pelas quais o homem tem passado em sua história, sobretudo na Modernidade.
De forma simplificada, podemos dizer que nossa noção de corpo e de subjetividade data aproximadamente dos últimos três séculos: da passagem do Renascimento para a Idade Moderna. 0 sujeito moderno teria se constituído nessa passagem e sua crise viria a se consumar no final do século XIX. Em A invenção do psicológico, desenvolvemos a idéia de que no Renascimento teria surgido uma experiência de perda de referências. A falência do mundo medieval e a abertura do ocidente ao restante do mundo teriam lançado o homem europeu numa condição de desamparo.
A experiência medieval fazia com que o homem se sentisse parte de uma ordem superior que o amparava e constrangia ao mesmo tempo. Por um lado, a perda desse sentimento de comunhão com uma ordem superior traz uma grande sensação de liberdade e a possibilidade de uma abertura sem limites para o mundo, mas, por outro, deixa o homem perdido e inseguro: como escolher o que é certo e errado sem um ponto seguro de apoio?
0 Renascimento foi, por tudo isto, um período muito rico em variedade de formas e experiências e de produção intensa de conhecimento. 0 contato com a diversidade das coisas, dos homens e das culturas impôs novos modos de ser. Não podendo esperar pelo conselho de uma figura de autoridade, o homem viu-se obrigado a escolher seus caminhos e arcar com as conseqüências de suas opções. Nesse contexto houve uma valorização cada vez maior do "Homem", que passou a ser pensado como centro do mundo.
A crença em Deus não desapareceu então, mas parece que ele se distanciou e colocou-se "sobre" o mundo: Ele foi o criador da ordem do mundo e cabe ao Homem admirá-la, conhecendo e controlando a natureza. Assim, o mundo passou a ser considerado cada vez menos como