conjecturas e refutações
(O Progresso do Conhecimento Cientíco)∗
Karl R. Popper
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Ciência: Conjecturas e Refutações
O Senhor Turnbull tinha previsto conseqüências nefastas, . . . e agora fazia tudo o que podia efetivar suas próprias profecias.
Anthony Trollope
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Quando recebi a lista dos participantes deste curso , e percebi que tinha sido convidado a me dirigir a colegas lósofos, imaginei, depois de algumas hesitações e consultas, que os senhores prefeririam que falasse sobre os problemas que mais me interessam e os desenvolvimentos com os quais estou mais familiarizado. Decidi, portanto, fazer algo que jamais havia feito antes: um relato do meu trabalho no campo da losoa da ciência desde o outono de 1919, quando comecei a lutar com o seguinte problema: Quando pode uma teoria ser classi-
cada como cientíca? , ou Existe um critério para classicar uma teoria como cientíca? Naquela época, não estava preocupado com as questões Quando é verdadeira uma teoria?
ou Quando é aceitável uma teoria?
Meu problema era
outro. Desejava traçar uma distinção entre a ciência e a pseudociência, pois sabia muito bem que a ciência freqüentemente comete erros, ao passo que a pseudociência pode encontrar acidentalmente a verdade.
Conhecia, evidentemente, a resposta mais comum dada ao problema: a ciência se distingue da pseudociência - ou metafísica - pelo uso do método empírico, essencialmente indutivo, que decorre da observação ou da experimentação. Mas essa resposta não me satisfazia. Pelo contrário, formulei muitas vezes meu problema como a procura de uma distinção entre o método genuinamente empírico e o não empírico ou mesmo pseudo-empírico - isto é, o método que, embora
∗ Popper, Karl R. Conjecturas e Refutações. Brasília: Editora da UnB. 1980.
1 Conferência
feita em Peterhouse, Cambridge, no verão de 1953, como parte de curso
sobre a evolução e as tendências da losoa inglesa contemporânea, organizado