Conhecimento puro e impírico
Não se pode duvidar de que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, porque, com efeito, como haveria de exercitar-se a faculdade de se conhecer, se não fosse pelos objetos que, excitando os nossos sentidos, de uma parte, produzem por si mesmos representações, e de outra parte, impulsionam a nossa inteligência a compará-los entre si, a reuni-los ou separá-los, e deste modo à elaboração da matéria informe das impressões sensíveis para esse conhecimento das coisas que se denomina experiência?
No tempo, pois, nenhum conhecimento precede a experiência, todos começam por ela.
Mas se é verdade que os conhecimentos derivam da experiência, alguns há, no entanto, que não têm essa origem exclusiva, pois poderemos admitir que o nosso conhecimento empírico seja um composto daquilo que recebemos das impressões e daquilo que a nossa faculdade cognoscitiva lhe adiciona (estimulada somente pelas impressões dos sentidos); aditamento que propriamente não distinguimos senão mediante uma longa prática que nos habilite a separar esses dois elementos.
Conhecimento empírico é aquele que é obtido mediante a experiência. Esta é apreendida pela Sensibilidade. Consiste em uma modificação do sujeito, isto é, em um ser afetado pelos objetos da experiência. Uma cor, uma textura, um movimento, um som– todos são afecções do sujeito, são conhecimentos empíricos. Certamente, o conhecimento empírico possuirá espécies e graus – desde a visão de alguém a passar do outro lado da rua, até a verificação experimental da circulação do sangue, por exemplo.
Já no conhecimento puro, não há modificação do sujeito. Não há a presença atual do objeto na experiência. Ele se realiza no puro plano do pensar, nas instâncias do Entendimento (Conceitos Puros) ou da Razão (Idéias Puras). Tais conceitos e idéias puras serão depois denominados transendentais, por Kant – não porque sejam transcendentes,