Confissão de um pastor
Era uma vez um jovem rebelde, arruaceiro e dissoluto que amava “alucinadamente” as mulheres e fumava maconha e cheirava cocaína no mesmo ritmo que dirigia sua moto — mais do que uma alma perdida, era a promessa de um legítimo cafajeste.
Um dia, esse moço acordou aos gritos achando que estava com uma cobra sucuri enrolada no corpo, mordendo-lhe o braço e inoculando-lhe veneno. Era uma visão, claro, não uma cena real, mas foi como se fosse. Caio Fábio tinha então 19 anos, já estivera perto da morte por acidente ou suicídio, e aquela foi a última vez que, simbolicamente, se sentiu possuído pelo demônio.
No dia seguinte, decidiu, iria nascer de novo: “Vou viver com Jesus e ser um homem de Deus para o resto da minha vida.” Convertido, o jovem acabou se tornando pastor protestante, assim como seu pai, um agnóstico que certo dia, lendo a Bíblia, também se convertera e abandonara tudo, inclusive um próspero escritório de advocacia do qual era sócio o senador Bernardo Cabral, ex-ministro e presidente da CPI dos precatórios.
As memórias que Caio Fábio lança agora encerram mais do que a conversão de uma alma desgarrada que escolheu como referência não um presbiteriano como ele, mas um santo, Santo
Agostinho, cujas Confissões pontuam como epígrafes os capítulos do livro, criando um curioso contraponto católico a essa saga protestante.
Encerram mais do que isso. As Confissões são também a emocionante aventura de uma vocação pastoral sem temor e sem preconceitos, que sobe os morros, entra nos presídios, freqüenta palácios, catequiza traficantes, batiza governador, é perseguida politicamente, e nada abala a sua crença de que o Evangelho é imbatível, de que tem o poder de “mudar bichos, monstros e pervertidos”.
No livro, como na vida, pode-se encontrar esse pastor tão pouco ortodoxo em Bangu I convertendo Gregório, o Gordo, o maior ladrão de carros da história do Brasil e estrategista do
Comando Vermelho. Ou batizando o perigoso traficante