comunicação e utopia
Paulo Serra
Universidade da Beira Interior
Índice
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Introdução
A utopia da comunicação
A “sociedade da comunicação”
O estado da utopia
Conclusão
Bibliografia
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Introdução
O conjunto das esferas da nossa experiência da ciência à arte, passando pela política, pelo amor, pela linguagem, pela própria religião
–, tende hoje a ser explorado por um vasto conjunto de saberes, práticas e instituições, em termos de "comunicação".
“Comunicar” tornou-se, em todas os domínios da nossa actividade, um verdadeiro imperativo categórico.
Tornámo-nos parte de um verdadeiro "dispositivo comunicacional"que transforma todos os nossos comportamentos em comunicação, torna transparentes os nossos gestos mais íntimos, encara como uma "doença"toda a recusa, afinal frustrada, à comunicação.
Porque é que a comunicação assumiu hoje uma tal importância teórica e prática? Porque é que a comunicação tende a ser apresentada como a solução de todos os proble-
mas, individuais e colectivos, das sociedades actuais? Uma parte substancial da resposta a estas perguntas situa-se na “utopia da comunicação” que emerge, no Ocidente, após a
II Guerra Mundial. Com ela foi colocado, na “comunicação”, todo um conjunto de esperanças até aí depositadas na política ou, mesmo, na religião. Será que essa “fé na comunicação” se encontra plenamente satisfeita naquilo a que se tem vindo a chamar a
“sociedade da comunicação”? Ou será que
– e, mais uma vez, como todas as utopias
– teremos de confessar, como More no final da sua Utopia, que “há, na república da
Uopia, muitas coisas que eu desejaria para os nosso países, embora o meu anseio ultrapasse a esperança de o conseguir”?1 Procuraremos mostrar, no que se segue, que este é, efectivamente, o caso.
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A utopia da comunicação
Num texto de 1917, e ao procurar explicar as resistências e críticas dirigidas contra a psicanálise e a sua descoberta do inconsciente,