Caracterização. A música (e às vezes a personalidade) de Handel costuma ser comparada e confundida, pelos leigos, com a do seu contemporâneo J.S.Bach. Ambos se parecem em seu gigantismo, ambos restabeleceram a ordem no caos resultante do experimentalismo do séc.XVII, ambos tiveram na fé luterana a motivação profunda para a sua música religiosa e ambos reconstruíram em maiores dimensões a polifonia vocal, tendo como origem a polifonia instrumental da música para órgão, pois foram ambos grandes virtuoses desse instrumento. Essas semelhanças talvez justifiquem a comparação, mas Handel e Bach foram personalidades muito diferentes. Enquanto o segundo ficou restrito a um ambiente provinciano, Handel foi homem da grande sociedade de Londres. Como músico são também diferentes. Handel era compositor mais do tipo vocal, tinha preferência marcada pelo gênero grandiloquente da ópera, que nunca atraiu Bach. A música religiosa dos grandes oratórios de Handel é muito menos interiorizada do que a das cantatas de Bach. A música de Handel, grandiosa e triunfante, foi a maior realização do ideal barroco, o de empolgar os sentidos. Como músico instrumental Handel parece às vezes superficial, na pintura de grandes afrescos, mas o colorido de sua orquestra é irresistível. Handel foi um grande mestre do artifício construtivo. Não hesitou nesse sentido, em se repetir sem escrúpulos, utilizando indiferentemente o tema de uma canção erótica em um De profundis, por exemplo, ou em se apropriar de temas de outros compositores como se fossem seus, fundindo-os em um estilo homogêneo. Sua arte foi, assim, de um mestre universal, numa época em que a música não conhecia fronteiras nacionais. É arte de síntese, que funde elementos de várias nacionalidades, como a melodia da ópera italiana, a polifonia da música religiosa alemã e os ritmos de dança franceses. Esta síntese monumental estava a serviço da força expansiva de sua música e de seu temperamento dramático. Muito