alteridade
José Maria Santana Caselas1
Resumo: Enrique Dussel, filósofo argentino, propõe uma Ética da Libertação que designou como utopia possível, cujo objetivo é o de resgatar a vida que é negada às vítimas dos sistemas de opressão e o seu reconhecimento em condições dignas de paridade. O autor opõe uma razão ética pré-originária à intersubjetividade argumentativa de Habermas
(Ética da Discussão), a fim de reconhecer o Outro na sua diferença, o excluído, a quem é negado o dever-viver. Mas poderá uma tal utopia recorrer à categoria de povo para a integração plena da comunidade de vítimas nas sociedades atuais?
Palavras-chave: Ética da Libertação – utopia – povo.
Enrique Dussel, filósofo argentino, apresenta a sua Ética da Libertação como uma ética da vida. Este princípio, que se arroga a uma universalidade capaz de se fundar por si mesma, pretende colocar-se ao lado de uma práxis de libertação das vítimas, dos oprimidos, dos povos do
Sul, dos idosos, das crianças da rua, das gerações futuras etc. Para isso, o critério de verdade apresentado é a vida: “A vida humana em comunidade é o modo de realidade do ser humano e, por isso mesmo, ela é ao
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mesmo tempo o critério de verdade prático e teórico” .
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Professor de Filosofia. Mestre em Filosofia pela Universidade de Lisboa com tese sobre
Michel Foucault. Membro do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e doutorando na
Universidade de Évora. Orientador: Olivier Feron. E-mail: josecaselas@netcabo.pt
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DUSSEL, L’Éthique de la libération à l’ère de la mondialisation et de l’exclusion, p. 23. A tradução francesa, que adotamos, é a versão abreviada da obra in-extenso Etica de la
Liberación en la edad de la globalización y de la exclusión. Madrid: Editorial Trotta, 1998.
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Caselas, J.M. S. Cadernos de Ética e Filosofia Política 15, 2/2009, pp. 63-84.
O princípio vital da ética constitui-se em três momentos: 1) o