Comparação de hans staden e a carta de pero vaz de caminha
A literatura de viagem adormece sob um caráter essencialmente revelador: Quer ela nos contar o que o viajante assistiu, projetando em nosso imaginário o aparecimento descritivo de uma realidade diversa, vista através de um olhar particular. O assistir, no entanto, não passa de literatura centrada na impressão pessoal: As narrativas seguem, invariavelmente, pontos de vista. Quando os peninsulares europeus se lançaram ao oceano em busca de especiarias, tinham em mente a menor das idéias do que encontrariam. Estes dois relatos – o de Staden e o de Caminha - dizem muito a respeito do estranhamento eurocêntrico da descoberta das Américas. “Ali por então não houve mais fala nem entendimento com eles, por a barberia [barbárie] deles ser tamanha que se não entendia nem ouvia ninguém” (Folha 3 da carta de Pero Vaz de Caminha). Mas esse estranhamento segue lógicas diferenciadas: Hans Staden ficou preso em uma tribo de antropófagos, vendo-os em suas cerimônias comer a carne humana assada; Pero Vaz de Caminha viu os índios a partir de um escopo mais naturalista, menos amedrontador, embora ambos os tratassem em formas subjugadas, de acordo com a mentalidade da época. Para Staden há formidável justificativa para tanto: a eminência de ser devorado..
A narrativa de um alemão
Hans Staden era um mercenário alemão que empreendeu duas viagens ao Brasil – a primeira em 1548, passando por Pernambuco e Paraíba, e a segunda em 1550, passando ela ilha Santa Catarina, dirigindo-se, posteriormente, a capitania de São Vicente, atual Estado de São Paulo. Suas rotas consistiram em séries incríveis de naufrágios e motins, até ser capturado pelos indígenas. Permaneceu nove meses com eles, sempre na eminência de ser comido. Seu relato é premido de receio e assombro, sempre se referindo aos índios enquanto selvagens. Entretanto, é num navio francês que Staden volta à Europa, antes, claro,