- Como reduzir o custo Brasil em plena crise
Todos conhecem o paradoxo que asfixia o Brasil há anos: ser um país com preços caros e salários baratos. Qual é o mistério? A intermediação. Mais do que a taxa de juros, cara no Brasil é a taxa de spread. Mais do que os salários, o que custa caro no Brasil são os custos indiretos da mão de obra. Temos ainda uma carga tributária excessiva: nórdica em seu peso, ibérica no seu manejo. Resulta em outro paradoxo: custos britânicos e serviços públicos africanos. A crise nos coloca face a face com tais paradoxos e representa uma excepcional oportunidade para enfrentá-los.
Tenho participado com interesse redobrado das reuniões de monitoramento da crise no âmbito do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), o Conselhão da Presidência da República. Os debates têm sido intensos e ricos. O governo, evidentemente preocupado com a profundidade da crise, vem se desdobrando para irrigar o sistema financeiro, pondo sua formidável máquina estatal de crédito à disposição do setor privado. No entanto, isso não é suficiente. Temos que atacar o custo Brasil.
O primeiro deles é a intermediação financeira. Não basta reclamar dos juros. A sociedade deve agir para que o spread bancário também seja reduzido. Em recente reunião do Conselhão, o presidente da CUT, Arthur Ramos, lançou um desafio aos presidentes da Caixa Econômica e do Banco do Brasil: ele se dispôs a levar 500 mil trabalhadores (e suas respectivas contas correntes) para um dos dois bancos em troca de tarifa zero para serviços bancários e juros reduzidos. O presidente do BC, Henrique Meirelles, que assistia ao debate, imediatamente concordou e sugeriu que o caminho para derrubar a taxas de juros é o consumidor usar o seu poder de barganha enfrentando a intermediação do dinheiro. Adiante, Meirelles defendeu as cooperativas de crédito e alfinetou a FIESP, que reclama da taxa de juros, mas não coloca a sua cooperativa de crédito em funcionamento.