combatendo o racismo
RACISMO: Brasil, África do Sul e Estados Unidos*
Antonio Sérgio Alfredo Guimarães
RBCS Vol. 14 no 39 fevereiro/99
Como superar o racismo nas sociedades atuais, quando já não se reconhece facilmente um racista? Como enfrentar hoje, pelo menos no Brasil e nos Estados Unidos, um problema que é genericamente desqualificado como exagero ou manipulação política, e que muitas vezes aparece realmente assim envolto? Que pontos mínimos uma agenda anti-racista deve contemplar hoje em dia?
No texto que segue, faço um esforço para identificar minimamente o que podemos chamar hoje de racismo, tomando como referência empírica o debate político e intelectual corrente na África do Sul, no Brasil e nos Estados Unidos. Do ponto de vista estritamente acadêmico, o texto tem ainda um caráter provisório, posto que, apesar de sugerir novos caminhos teóricos, não aprofunda a discussão mais conceitual nem discute sistematicamente a literatura sociológica e antropológica sobre o estudo comparado das relações raciais nestes paí- ses, ficando restrito à intersecção entre os embates político e científico. Situa-se, assim, naquele espa- ço intermediário onde as idéias ganham forma mas ainda pedem por crítica para se cristalizar.
O trabalho compõe-se de nove notas. A primeira nota demarca um terreno axiológico comum ao anti-racismo, independente da posição dos debatedores na dicotomia racialismo/não-racialismo.1 A segunda esclarece o significado do termo racismo. A terceira nota procura situar sociologicamente o racismo nos três países tomados como referência, fazendo um esforço para determinar a relação entre a definição dos direitos da cidadania e a definição da nacionalidade. A quarta nota explora os tipos de mecanismos que produzem e reproduzem desigualdades sociais relevantes na distribuição de recursos e honras sociais. A quinta define melhor a especificidade do racismo no Brasil e a sexta, a sétima e a oitava notas discutem o movimento