ciências política
Existem dois preconceitos sem cuja superação é difícil avançar na discussão do tema proposto para esta mesa-redonda. O primeiro é o que assimila, confunde, transforma em sinônimos “agricultura familiar” e expressões como “produção de baixa renda”, “pequena produção” ou até mesmo “agricultura de subsistência”. O segundo é o que considera as grandes extensões territoriais trabalhadas por assalariados como a expressão mais abada do desenvolvimento agrícola. Os dois preconceitos são evidentemente solidários e pondem pela visão tão freqüente de que, apesar de sua importância social, não se pode considerar a agricultura familiar como relevante sob o ângulo econômico.
Não se trata de filigranas sociológicas, mas de um assunto decisivo para todos os que atuam na agricultura, a começar pelos especialistas em solos. Auxiliar na montagem de sistemas produtivos ambientalmente sustentáveis e economicamente rentáveis é um dos maiores desafios que os agricultores colocam aos especialistas em solos. Enquanto perdurar a crença de que a agricultura familiar é, por definição, um tema de interesse puramente “social” e cuja expressão produtiva tende a ser desprezível, será difícil que os profissionais do solo tenham motivação suficiente para voltar suas energias intelectuais ao fortalecimento deste setor.
Para discutir estes temas, o presente texto divide-se em três partes, além desta apresentação. Inicialmente (item 2), procura-se oferecer uma definição de agricultura familiar e as principais informações a respeito de seu desempenho, em países capitalistas centrais e no Brasil. Mesmo não se tratando de um panorama completo sobre o tema, as informações oferecidas procuram mostrar que agricultura familiar e pequena produção não podem ser tomadas como sinônimos.
Em seguida (item 3) é apresentada a questão específica proposta na mesa-redonda: o uso do solo na agricultura familiar. Discutem-se dados nacionais propostos por um estudo da FAO (1995) e os