Ciência e política, 2 vocações
O ator direciona o ensaio aos jovens supostamente com vocação à ciência, que pretendem se devotar à pesquisa por amor. Percebe-se que há um diálogo implícito, compondo o texto, numa tentativa de desmitificar uma visão idealizada, como também da presunção destes jovens e da pose irracional, então em voga na Alemanha.
Nesse movimento de "combate a ilusão", é possível identificar o propósito de Weber em comprovar a eficácia da explicação sociológica nos vários campos da vida social, em especial a que dá conta de fenômenos subjetivos. A vocação para a ciência decorre de um processo de racionalização, que na sociedade moderna, é caracterizada pelo pluralismo de valores, opondo-se religião, ciência, arte, e ética como potências ou "vocações" antagônicas.
A força explicativa e a originalidade desse modelo, exposto de maneira didática nesse capítulo, mostra nas páginas iniciais do ensaio um exame feito pelo autor de forma convencional, como pensa os fatos sociais e as condições materiais que enquadram a vocação universitária.
Contrapondo as ilusões dos jovens à objetividade da prática social, Weber destaca uma série de dilemas da ocupação científica universitária (que para ele não se restringe às ciências naturais), numa descrição espantosamente atual: a dificuldade de conciliar duas capacidades distintas, a de professor e a de pesquisador; a necessidade de conjugar a inspiração e o anseio de criar algo duradouro num terreno sujeito às leis do progresso, a distinção pelo mérito numa atividade em que o ingresso e a ascensão profissional se encontram a mercê do acaso.
Segundo Weber, o cientista especializado faz parte da "grande fábrica da ciência", mas o faz, com dedicação apaixonada. Do contrário, deveria estar fazendo outra coisa na vida. É fácil identificar no ensaio de Weber que um elemento racional fundamental da ciência moderna – a especialização – depende de um elemento irracional – a paixão.