Ciência Política e seus Marcos Epistemológicos
Cláudio César de Andrade
1. Conceito e noção da Ciência Política Em uma primeira análise, antes de entrar no campo teórico da ciência, com suas noções e definições, é fundamental compreender que se não fosse pelo processo de linguagem, tais artifícios de conceituação não seriam possíveis. Traçando um panorama geral do exercício do poder, pode-se afirmar que a linguagem foi, e é, um fator de dominação. Marcos Bagno1, linguista brasileiro, relacionou a exclusão social e a imposição política pela língua, ou seja, a língua como elemento de dominação. Dessa forma, além de ser importante como um sistema de códigos, sintática e semanticamente, organizado, que dará suporte teórico à ciência, a linguagem pode aparecer também como um objeto de estudo da própria ciência, pois poderá ser visto como uma forma de coação intelectual. Sendo assim, é válido pontuar, mesmo com todos os benefícios da linguagem, como é difícil, de certo modo, conceituar a própria ciência, pois se, de fato, tal conceituação só pode ser feita a posteriori, após obter-se um conjunto de conhecimentos solidificados e fundamentados - que possa elencar as características essenciais do objeto -, não se pode definir a ciência completamente, pois segundo Maurice Duverger2, uma precisa definição de ciência política só seria, realmente, possível se ela estivesse perfeitamente conceituada, se tivesse sido explorado inteiramente o seu domínio. Nesse sentido, como não se pode estudar, compreender, todo o conteúdo, pelo caráter dinâmico da ciência, é melhor, de início, expor as representações gerais sobre o tema tratado, ou seja, propor teorias, logicamente fundamentadas, sem estudar o objeto, sobre o que trata aquele ramo do conhecimento. Posteriormente, ao aprofundar-se nas pesquisas, obtendo dados sobre o objeto, faz-se uma definição, de certo modo provisória, da ciência, sem pretensão de admiti-la como única, ou imutável, uma vez que a ciência