Cinema Tragico Sem Catarse

TRÁGICO SEM CATARSE
Cidade e Cinema
Brasileiro Contemporâneo
Nilson Assunção Alvarenga*
• Reflexão sobre a aplicabilidade do termo “trágico” para se referir a situações dramáticas e personagens de três filmes brasileiros contemporâneos: Um céu de estrelas, O invasor e Contra todos. Apresentação de alguns sentidos do termo “trágico”. Esboço da idéia de “trágico sem catarse” para se referir a situações e personagens tipicamente trágicas mas representadas de modo realista, possível no cinema a partir do neorealismo italiano, segundo a interpretação de André Bazin. O espaço urbano, nos filmes, indicado como gerador de situações trágicas. Considerações de ordem ética e política.
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Classicamente, a tragédia se define, com Aristóteles, como a imitação [, mimêsis] de uma ação de caráter elevado, completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada e com as várias espécies de ornamentos distribuídos pelas diversas partes do drama, imitação que se efetua não por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a purificação [, katharsis] dessas emoções1.

Já em Nietzsche, além de substantivo – A origem da Tragédia –,
“trágico” torna-se adjetivo aplicável a uma época ou uma cultura como um todo: “A filosofia na época trágica dos gregos”.
Jean-Pierre Vernant dirá que também nossa época é trágica:
A tragédia grega inventa não apenas um espetáculo e um tipo literário, mas apresenta um homem trágico: ela inventa o homem angustiado, o homem que questiona seus atos, que compreende mais tarde que fez uma coisa totalmente diferente do que acreditava fazer... É isso que continua a ressoar em nós. (…) Há

* Professor (Faculdade de Comunicação / UFJF). Pesquisador (FAPEMIG).
Lumina - Juiz de Fora -Facom/UFJF - v.7, n.1/2, p.133-151, jan./dez. 2004
ISSN 1516-0785

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momentos históricos de otimismo, como no início do