CENÁRIO DO FUTURO
Fátima Alves Fraga
Querido Diário,
Como tenho me comportado tão estranha, até compondo um diário, resolvi me justificar. Pareço fora de sã consciência. Mas tenho necessidade em falar pra você tudo que sinto, vejo e vivencio. Eu jamais acreditei no amor, na paixão ou na amizade. Vivo muito bem com meu trabalho e morando sozinha. Meus dois filhos cresceram de forma bastante satisfatória, independentes, em outro país. Não precisam de mim para absolutamente nada, o que muito me orgulha, pois quando pensei em tê-los, procurei um Centro de Reprodução Humana e escolhi como os queria. Lá mesmo havia máquinas que os gerassem a partir do meu DNA, que foi extraído de uma mínima porção da minha saliva. São seres muito interessantes. Foram criados por um Instituto de Convivência Humana que selecionava todos os indivíduos com os quais eu autorizava a socialização e, assim, cresceram de forma equilibrada e dentro das expectativas. Nunca se comportaram como pessoas frágeis, piegas, sentimentais, apaixonadas. Nem desajustadas, como alguns membros de funcionários das empresas para as quais presto serviços, que insistem em não acompanhar as mudanças da sociedade e continuam desejando encontros com seus pais, contatos físicos com os amigos, relações sexuais com os parceiros... Pensam ainda estar na época das cavernas, no terceiro milênio, por volta do ano 2000. Quer dizer, estou imaginando como era o cenário daqueles tempos, embora seja dificílimo fazê-lo.
Por outro lado, algo estranho tem-me ocorrido. Quando estou sentada diante do meu computador, me transporto para outros períodos e inicio uma vida completamente divergente da minha. Passo a ser Sophia e não mais SSS3030. Vivencio experiências nunca dantes sequer lidas. Tudo é significativamente diferente e, o que é preocupante, sinto algo cuja definição lembra felicidade, que fotografei virtualmente quando fui à galáxia dos registros de antecedentes humanos. Lembro-me dos nomes hilários que adotavam