Essa historia começou quando o meu avô, dono de um engenho em Pernambuco, resolveu morar em cima do areal do Leblon (Rio de Janeiro), como terceiro morador da região. Ali nasceu meu pai, João Araújo, que se casou com uma moça linda, Lucinha, que cantava como um passarinho. Uma mulher que se tornou importante no cenário musical e que teve, numa das primeiras novelas da televisão, sua gravação da música “Peito vazio” (de Cartola) incluída na trilha sonora. Gostava de vê-la cantando e penso que isso influiu muito no meu futuro. Meu pai também pesou muito. Ele sempre transou disco e, quando eu era menino, tinha a casa cheia de artistas. Eram cantores que chegavam e saíam o tempo todo. Conheci Elis Regina, os Novos Baianos, Jair Rodrigues, que gostava de brincar de me jogar para o alto, e outros cantores. Na nossa casa, se respirava música o tempo todo. Naquele tempo, queria ser um grande arquiteto e só me interessava em ficar fazendo mapinhas da cidade, traçando ruas e desenhando edifícios. Essa mania acabou quando resolvi fazer vestibular e percebi que não dava pra matemática. Como fazia mapas, fazia poesia às escondidas de meus pais, porque era um romântico, um cara cheio de dores-de-cotovelo. “Ser filho único, por um lado, é bom; por outro, não.” Meu pai e minha mãe, por força da vida profissional, tinham de frequentar a vida boêmia – o que acabei herdando deles também – e me deixavam sempre com a minha avó materna. Ela era uma mulher fantástica, muito louca, aberta e deixou um grande buraco na minha vida quando morreu. Fiquei sozinho, sem um irmão para dividir comigo as alegrias e mágoas. Não tive coragem de me abrir com os meus pais sobre minha vocação poética, porque pensava que iam dar o contra. Então, com minha avó, discutia versos, rimas. Ela foi a pessoa que mais influiu na minha infância e adolescência. Meu pai e minha mãe não eram repressores. Já aos 13 anos, tinha a chave de casa e o carro de meu pai para dirigir. Conheci o sexo tarde,