casados
A realidade é um fenômeno extremamente complexo. Nossos sentidos nos permitem apreendê-la em alguns de seus aspectos e hoje sabemos que outras espécies que conosco compartilham o planeta têm outros sentidos (ou às vezes o mesmo sentido organizado de outra forma) que lhes facultam apreender a mesma realidade sob aspectos inteiramente distintos. Assim, os limites à compreensão integral da realidade começam pela nossa percepção dela.
É na realidade que os seres vivos têm que satisfazer as exigências de seus organismos. Para tanto, não basta perceber a realidade, é preciso agir nela e sobre ela, a partir da forma como é percebida. Nos animais esta ação é preponderantemente instintiva: os comportamentos que os animais adotam em função da sua percepção da realidade, a forma de organização das suas experiências individuais, são geneticamente determinados e, ainda que algumas espécies possam ser condicionadas, ou mesmo levadas a aprender algumas coisas, isto desempenha um papel muito pequeno na existência do ser em questão. Entretanto, o ser humano tem uma peculiaridade que o distingue dos demais animais. Como aponta o antropólogo Cliffort Geertz (1973), a partir de um determinado ponto de sua evolução biológica, o aparato cerebral passou a d e s e n v o l v e r-se de forma dependente da cultura: Como nosso sistema nervoso central – e principalmente a maldição e glória que o coroam, o neo-córtex – cresceu, em sua maior parte, em interação com a cultura, ele é incapaz de dirigir nosso comportamento ou organizar nossa experiência sem a orientação fornecida por sistemas de símbolos significantes (p. 37). A cultura é um poderoso sexto sentido que serve aos seres humanos como instrumento para orientar a org a n i z a ç ã o das experiências individuais e da coletiva. Através dela temos acesso a uma extensão da realidade, o seu mundo particular, que só por ela mesma é perceptível.
Embora a cultura tenha infinitos aspectos, um deles