Cartilha de alfabetização e cultura escolar
Um pacto secular
Maria do Rosário Longo Mortatti*
RESUMO: No Brasil, a partir da última década do século XIX, com a organização republicana da instrução pública, observa-se o início de um movimento de escolarização das práticas de leitura e escrita e de identificação entre o processo de ensino inicial dessas práticas e a questão dos métodos. A partir de então, a cartilha vai-se consolidando como um imprescindível instrumento de concretização dos métodos propostos e, em decorrência, de configuração de determinado conteúdo de ensino, assim como de certas silenciosas, mas operantes, concepções de alfabetização, leitura, escrita e texto, cuja finalidade e utilidade se encerram nos limites da própria escola e cuja permanência se pode observar até os dias atuais. O objetivo deste artigo é, mediante an á lise dessas quest õ es, problematizar a rela çã o entre cartilha de alfabetização e cultura escolar e seus desdobramentos na história da educação e da alfabetização em nosso país.
Palavras-chave: Cartilha, alfabetização, ensino da leitura, cultura escolar, história da alfabetização
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Necessidade apontada desde o final do s é culo XIX no Brasil, o processo de nacionalização do livro didático – produzido por brasileiros e
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Professora Adjunta – FFC – Unesp/Marília; Coordenadora do grupo de pesquisa “História do ensino de língua e literatura no Brasil” e do projeto integrado de pesquisa “Ensino de língua e literatura no Brasil: Repertório documental republicano” (Apoio CNPq e FAPESP). E-mail: mrosario@sunline.com.br Cadernos Cedes, ano XX, n o 52, novembro/2000
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adequado à realidade brasileira – acompanha pari passu o anseio de organiza çã o republicana da instru çã o p ú blica; e, simultaneamente, faz-se acompanhar do surgimento e da expansão do mercado editorial brasileiro, que na escola encontra espa ç o privilegiado de circula çã o e p ú blico consumidor de seus produtos.
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