Carta
Não obstante os acontecimentos que marcaram esse dia e continuam marcando, pois a mídia está sempre a revivê-los, hoje acordei com uma estranha sensação de liberdade. E disse de mim para mim: – sabe de uma coisa, não vou trabalhar hoje! Vou cabular o dia, fazendo coisas que gosto! (adoro usar exclamação: ela empolga as letras!). E dei por partida, ficar na cama sonhando um pouco mais. Mas como tudo cansa (ah! inquieta natureza humana! *1), levantei-me da cama, e continuando a sonhar (*2), desci para tomar meu café-da-manhã: torradas de um pão comprado de véspera, leite misturado a um achocolatado. Mas me acrediteis, indiferente a aparente simplicidade, estava uma delícia! Aliás, tudo hoje parece delicioso, até o céu vestido de gris aparenta felicidade, fazendo-me crer que “gosto” é só questão de alma, e não de paladar ou outra física sensibilidade.
Junto com o café-da-manhã, que já não era tão “manhã”, fiquei vendo pela janela da cozinha, o reboliço dos cachorros (noteis o plural? Agora são dois: Chumbinho, o mais velho; e Vaimar, a mais nova e maior fisicamente, e devido a sua pouca idade [2 meses] estabanada e incansável), a correrem pelo gramado, numa agitação própria da primavera, que só compete a segunda, infelizmente. Eu disse a correrem, mas verdade se faça: Chumbinho velozmente fugindo as incursões de Vaimar, que incansavelmente o persegue para brincar, e o rude-senhor, esquecendo de suas idades, em esgares ruidosos, punha, momentaneamente, fim a intenção jocosa da Vaimar. Mas tudo questão de tempo. Passados alguns segundos, lá vai ela de novo, como se nada tivesse acontecido, e Chumbinho, pobre Chumbinho, fugitivo novamente!
Já entediado de observar os cães – animais que nada reclamam e só doam, estando sempre alegres com a presença de seus “donos” (se os donos amam seus cães, difícil será afirmar, que aqueles sejam “donos” destes, pois se para uns o amor escraviza com suas cadeias invisíveis, para mim ele liberta,