carta do suburbio
Hoje venho por meio desta, mostrar o que venho sentindo há algum tempo, mas nunca tive a coragem de abrir para o mundo. Faço parte dos 24,55% da população soteropolitana que mora no Suburbio Ferroviario de Salvador. Na minha infância tinha o costume de ver esse ambiente para aqueles que queriam fugir da cidade caótica, aproveitando a pesca farta e as belezas das praias e enseadas banhadas pelas águas calmas da Baía de Todos os Santos, para me divertir juntos com os vários amigos, tanto aqueles que lá moravam e moram até hoje como eu, como aqueles que só veraneavam, e esperava ansiosamente todos os verãos que iram passar comigo e reencontra-lo. E assim foi por muito tempo, aproveitando intensamente todas as belezas naturais que tinham a nossa disposição.
Mas em aos meus 16 anos, vejo a inauguração da linha do trem da antiga Leste (Viação Ferroviária Leste Brasileiro), causou um espantamento na maioria de nós, mas fomos levando a vida, no entanto percebendo aos poucos o quanto estavam mudando o nosso tão querido lar. Uns 10 anos depois veio a popularização do nosso pedaço de terra, muitos desabrigados e sem terra chegando, fazendo os seus puxadinhos e então o nosso local da cidade foi sendo esquecido e deixado sua formação à espontaneidade das estratégias de sobrevivência do povo.
As condições precárias que nos encontramos, são cada vez mais visíveis a todos que por aqui passam, um lugar que antes era visto como refugio da cidade grande, agora é refúgio dos sem teto, meus dias estão chegando mas escrevo essa carta pensando no futuro daqueles que chegaram estão por vir, para que um dia eles possam ter esse sentimento de amor por esse lugar, assim como eu tenho boas memórias, assim como eu tenho bons momentos, e que compartilhei com todos, desejo de todo o meu coração que tenham histórias para contar para seus filhos e netos assim como eu tenho, que eles façam parte da história do subúrbio assim como o subúrbio fará parte da deles.
L.B.
Salvador,