carlos
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE TOCANTINÓPOLIS
CURSO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
LER O MUNDO
Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não. Ou não porque nem sempre deciframos os sinais à nossa frente. Ainda agora os jornais estão repetindo, a propósito das recentes eleições, “que é preciso entender o recado das urnas”. Ou seja: as urnas falam, emitem mensagens. O sambista dizia que “as rosas não falam, as rosas apenas exalam o perfume que roubam de ti”. Perfumes falam.
Paixão de ler. Ler a paixão.
Como ler a paixão se a paixão é quem nos lê? Sim, a paixão é quando nossos inconscientes pergaminhos sofrem um desletrado terremoto. Na paixão somos lidos à nossa revelia.
O corpo é um texto. Há que saber interpretá-lo. Alguns corpos, no entanto, vêm em forma de hieróglifo, dificílimos. Ou a incompetência é nossa, iletrados diante deles?
Movido pelo amor, pela paixão, pode o corpo falar idiomas que antes desconhecia.
Portanto, não é só quem lê um livro que lê.
Um paisagista lê a vida de maneira florida e sombreada. Fazer um jardim é reler o mundo, reordenar o texto natural. E quando os jardineiros barrocos instalavam assombrosas grutas e jorros d’ água entre seus canteiros estavam saudando as elipses do mistério nos extremos que são a pedra e a água, o movimento e a eternidade.
Tudo é texto. Tudo é narração.
Um desfile de carnaval, por exemplo. Por isto se fala de “samba- enredo”. Enredo além da história pátria referida. A disposição das alas, as fantasias, a bateria, a comissão de frente são formas narrativas.
Uma partida de futebol é uma forma narrativa. Saber ler uma partida – este é o mérito do locutor esportivo, na verdade, um leitor esportivo. Ele, como o técnico, vê coisa no texto em jogo, que só depois de lidas por ele por nós são percebidas. Ler, então, é um jogo. Uma disputa, uma conquista de significados entre o texto e o leitor.
Paulinho da Viola dizia: “As coisas estão no mundo, eu é que