Careme
Uma boa parte das delícias que hoje integram cozinhas de todo o Ocidente – como os suflês e o chantilly – são responsabilidade de grandes cozinheiros franceses do passado. Vatel é uma figura bastante conhecida devido ao seu suposto suicídio, decorrente da impossibilidade de executar com perfeição uma receita para Luis XIV. Mas o maior de todos os chefs do passado foi, sem sombra de dúvidas, Antonin Carême.
Nascido na agitação da França Revolucionária, abandonado pelo pai ainda criança, Antonin Carême cedo se empregou como aprendiz em uma pequena confeitaria e foi construindo uma carreira sólida, quase de celebridade, baseada na sua habilidade sobrenatural de transformar a comida, sobretudo a confeitaria, numa arte sublime. Carême passou pelas principais cozinhas européias do século XIX, mas sempre foi maior do que elas. Publicou vários livros de receitas e arquitetura, onde denunciava as condições de trabalho desumanas das cozinhas dos palácios (que eram pouco iluminadas e construídas nos subsolos) e advogava em prol da higiene desses ambientes (foi ele o criador da roupa e do chapéu brancos que qualquer chef que se preze usa até hoje). Mais que isso, porém, Carême foi um artista, na medida em que considerava que a confeitaria não era simples culinária, mas um dos ramos da arquitetura – e por isso, buscava incessantemente a perfeição em suas obras.
Assinado por Ian Kelly, ator britânico que viveu o chef nos palcos, “Carême: Cozinheiro dos Reis” é um livro para se ler com disponibilidade de tempo e ingredientes. Não que seja uma obra cansativa, muito pelo contrário; Kelly fez um excelente trabalho de pesquisa e narração aos descrever o trabalho de Carême, sua biografia, os ambientes e também as receitas. É por causa deles que é quase impossível ler o livro rápido. Elas são tentadoras, pulsantes, e impelem os amantes da gastronomia (histórica ou não) a tentar reproduzi-las. Além disso, o autor tomou o cuidado de reproduzir as ilustrações