Caramuru
“[...] tudo indica que Alvarez estivesse sendo preparado para ser devorado [...], no entanto, hum dia matando com a sua espingarda hum passaro [...], as mulheres e as crianças gritarão:
Caramuru, Caramuru! quer dizer, homem de fogo, e manifestaram medo de morrer assim a sua mão”.
Manuscritos do Brasil, 1819
Personagem envolto em mistérios e controvérsias, Diogo Alvarez Correa ou o Caramuru, como ficaria conhecido, representou a essência do espírito de aventura que conduziu os portugueses do século xvi por terras e mares até então desconhecidos.
Nascido em Viana do Castelo, no Norte de Portugal, em 1485, Diogo chegou ao Brasil em data incerta, mas posterior a 1500. Quando aportou nas novas terras tinha cerca de 17 anos, nada que causasse estranheza à época, quando crianças eram tratadas como verdadeiros adultos em miniatura, a partir dos 7 ou 8 anos.
Constantemente, crianças substituíam adultos mortos em consequência de doenças que se propagavam por ausência de hábitos básicos de higiene e pela alimentação deficitária em vitaminas e proteínas. Dessa forma, elas par-
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Eles formaram o Brasil
Diogo Alvarez Correa: o Caramuru.
ticipavam das grandes navegações portuguesas. Garotos serviam nos navios como grumetes, aprendizes de marinheiros, sujeitos a maus-tratos e encarregados de vários dos trabalhos mais pesados a bordo. Não raro, eram também abandonados em terra e entregues a sua própria sorte.
Foi o que aconteceu com nosso personagem: abandonado na Bahia,
Diogo adaptou-se à cultura dos índios tupinambás, terminando por dominá-la como se tivesse nascido entre eles. Quando a missão colonizadora de Martim
Afonso de Souza – aquela que iniciou a primeira tentativa de povoamento lusitano em 1530 e que foi responsável pela fundação da capitania de São
Vicente – chegou ao Brasil, o jovem Diogo prestou auxílio essencial aos seus conterrâneos portugueses.
Os homens de Martim Afonso não eram muito diferentes do