capitulo XXI
João Romão andava de um lado para o outro no seu quarto, e enquanto a negra dormia lá embaixo, nos fundos do armazém, e ele pensava no que fazer com a escrava. Nessa noite havia oficializado o pedido de casamento, e a família do Miranda já tinha aceitado e estava para marcar o dia do casamento. Depois de tanto tempo, não sabia como se livrar da negra. Pensava em todas as vantagens que esse matrimônio ia trazer, como o dote da noiva e a união com uma família rica e tradicional. Já pensava também em galgar posições sociais mais altas com aquela união, empurrando de lado o título do sogro e adquirindo um título de Visconde para si. Queria uma posição ainda mais alta que a do Miranda. Seria invejado, adulado e iria à Europa para mostrar sua riqueza. O problema ainda dormia lá embaixo: Bertoleza. Queria eliminar aquele empecilho da sua vida. Aquela concubinagem não combinava com seus sonhos de voar alto. Era a prova viva de suas misérias. Era tudo de ruim até aquele momento, e devia ser eliminada. Zulmira representava o bem, as mãos finas, flores, luxo, sedas, rendas, porcelanas, enfim, representava a vida dos ricos que estava chegando para ele. Pensava nas carícias da moça que logo afagariam seu rosto e cabelos. Mas antes, precisava sumir com Bertoleza. Ele desceu as escadas e foi observar a negra que dormia deitada de lado cobrindo parte do rosto com o braço. Olhou-a com nojo. Pensou a hipótese da morte dela. Depois pensou se poderia ele mesmo matá-la ali. Mas teve pavor. Pensou nas várias formas de fazer isto, mas não encontrava uma ideia sem que se incriminasse. Ficou pensando e olhando para ela, e naquele momento até a sufocaria ali, mas ela levantou a cabeça e perguntou se ele queria alguma coisa. Ele disfarçou, perguntando-a se a dor que ela tinha havia passado. Voltou para a cama, pensando se ela tinha desconfiado e continuou a pensar em outras maneiras de se livrar dela. E precisava fazer isto rápido, pois, o casamento seria oficializado rápido,