capitulo 3 vidas secas

2705 palavras 11 páginas
Capitulo III - Cadeia
FABIANO tinha ido a feira da cidade comprar mantimentos. Precisava de sal, farinha, feijão e rapaduras. Sinhá Vitoria pedira além disso uma garrafa de querosene e um corte de chita vermelha. Mas o querosene de seu Inácio estava misturado com agua, e a chita da amostra era cara demais.
Fabiano percorreu as lojas, escolhendo o pano regateando um tostão em côvado, receoso de ser enganado. Andava irresoluto, uma longa desconfiança dava-lhe gestos oblíquos. A tarde puxou o dinheiro, meio tentado, e logo se arrependeu, certo de que todos os caixeiros furtavam no preço e na medida: amarrou as notas na ponta do lenço, meteu-as na algibeira, dirigiu-se a bodega de seu Inácio, onde guardara os picuás.
Ai certificou-se novamente de que o querosene estava batizado e decidiu beber uma pinga, pois sentia calor. Seu Inácio trouxe a garrafa de aguardente. Fabiano virou o copo de um trago, cuspiu, limpou os beiços a manga, contraiu o rosto. Ia jurar que a cachaça tinha agua. Por que seria que seu Inácio botava agua em tudo? perguntou mentalmente. Animou-se e interrogou o bodegueiro:
- Por que e que Vossemecê bota agua em tudo?
Seu Inácio fingiu não ouvir. E Fabiano foi sentar-se na calcada, resolvido a conversar. O vocabulário dele era pequeno, mas em horas de comunicabilidade enriquecia-se com algumas expressões de seu Tomas da bolandeira. Pobre de seu Tomas. Um homem tão direito sumir-se como cambembe, andar por este mundo de trouxa nas costas. Seu Tomas era pessoa de consideração e votava. Quem diria?
Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-se e bateu familiarmente no ombro de Fabiano: - Como é, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro?
Fabiano atentou na farda com respeito e gaguejou, procurando as palavras de seu Tomas da bolandeira: - Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer Enfim, contanto, etc. E conforme.
Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era autoridade e mandava. Fabiano sempre havia obedecido. Tinha muque e substancia,

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