capitulo 3 identidade e alienação
Ao se abrirem as cortinas do palco histórico do século XX, não era possível prever com muita segurança o tipo de espetáculo que ali iria desenrolar-se. A Grande Depressão, arrastando-se por toda a Europa, espalhara seus efeitos, com maior ou menor intensidade, por todos os países. O aumento dos fluxos migratórios para os Estados Unidos testemunhava as crescentes dificuldades que se colocavam para o trabalhador europeu e sua família. Escapando quase ilesos da Grande Depressão, pois ali, mais jovem e saudável, o capitalismo expandia-se juntamente com a indústria ferroviária, os Estados Unidos constituíam um verdadeiro pólo de atração para os trabalhadores empobrecidos e desempregados. Na Europa, a classe dominante concentrava seus esforços nas tentativas de recuperação da economia, buscando estratégias que lhe pudessem trazer a expansão de seu capital como retorno. A Grande Depressão, através de um fluxo intermitente e sinuoso, prosseguia sua marcha, ora dando sinais de recuo, ora avançando ainda mais. Somente nos primórdios do século XX é que o quadro se tornou um pouco mais estável, determinando uma certa queda no nível de tensão reinante. Tratava-se, entretanto, de uma estabilidade fugaz, pois logo foi interrompida pelo conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que precederam a I Guerra Mundial e a Revolução de 1917 na Rússia. Por outro lado, no plano da relação capital-trabalho, os avanços do movimento operário e o amadurecimento de seu processo organizativo mantinham a classe dominante em estado de permanente ansiedade. Ao longo do século XIX, os trabalhadores europeus haviam transitado da prática sindical, stricto sensu, para a prática política, desenvolvendo, nesse caminhar, importantes estratégias de luta. O próprio Estado burguês, capitulando diante das evidências, passara a con
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siderar mais atentamente as pautas de reivindicações dos trabalhadores, rendendo-se, inclusive, à realização de negociações