Cap Tulo V
A Ascese e o Espírito do Capitalismo
Weber justifica por que vai recorrer a escritos decorrentes da prática sacerdotal e elege o intérprete puritano Richard Baxter como fonte. Mais do que para Calvino, a riqueza é considerada um perigo pelo puritano. Mas não por si só; a riqueza pode trazer ócio e relaxamento. A perda de tempo é o pecado.
Em Baxter aparece uma pregação apaixonada em prol do trabalho físico e mental mais duro e constante. A exceção que São Tomás de Aquino aceita – viver na contemplação se as condições de sobrevivência estão asseguradas – não é admitida por Baxter. Essa vocação não é uma resignação ao desígnio divino, como para Lutero, mas um mandamento de Deus. Para Weber, essa diferença é significativa e tem amplas consequências psicológicas. 6
No capítulo III, Weber mostrou como para Lutero a diferenciação dos homens em classes e profissões no processo histórico resulta da vontade divina e deve ser assim aceita pelos homens. Para o puritano, é diferente. O entendimento é pragmático e semelhante à ideia de divisão do trabalho de Adam Smith. A especialização das vocações incrementa as habilidades do trabalhador e os processos de produção, servindo ao bem comum (do maior número). A utilidade das vocações é determinada por critérios morais, mas também pela utilidade dos bens produzidos para a coletividade. Entretanto, a ênfase é deslocada para o caráter sistemático e metódico do trabalho, não do destino designado por Deus que deve ser aceito pelo mortal (visão de Lutero), o que acarreta certo “treino moral” e uma prova, para a consciência individual, do estado da graça concedida.
A mudança de vocação é possível, se o objetivo é melhor servir a Deus. A riqueza, condenável se leva ao ócio, pode mesmo ser recomendada: o homem deve aproveitar as oportunidades de lucratividade individual que Deus lhe oferece. Assim, o significado ascético da vocação justificou a moderna divisão do trabalho e a lucratividade.
Weber