Camilo Pessanha
Camilo Pessanha nasceu em Coimbra no ano de 1867 e lá conseguiu se formar no curso de Direito. Foi para Macau e lá exerceu funções judiciais. O contato com a cultura chinesa o levou a escrever vários estudos e fazer traduções de vários poetas chineses. Foram, todavia, os seus poemas simbolistas que influenciaram a geração de Orpheu.
Seu volume China. Estudos. Traduções (1944) contém ensaios sobre a China e oito elegias chinesas. Escrevia poesia para si próprio, para se libertar dos fantasmas que o oprimiam, decorrendo disso o fato de não cuidar de sua divulgação, nem mesmo de sua escrita, contentando-se com retê-la de memória. Os poemas do volume Clepsidra (1920), depois de transcritos pelo futuro poeta J. de Castro Osório, foram publicados e vieram a lume graças à escritora Ana de Castro Osório, sendo reeditados com o títuloClepsidra e Outros Poemas (1969). Camilo Pessanha é o representante mais genuíno do simbolismo e um dos vultos mais significativos da poesia portuguesa.
Poemas
Rufando Apressado
Rufando apressado,
E bamboleado,
Boné posto ao lado,
Garboso, o tambor
Avança em redor
Do campo de amor...
Com força, soldado!
A passo dobrado!
Bem bamboleado!
Amores te bafejem.
Que as moças te beijem.
Que os moços te invejem.
Mas ai, ó soldado!
Ó triste alienado!
Por mais exaltado
Que o toque reclame,
Ninguém que te chame...
Ninguém que te ame...
Violoncelo
Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trêmulos astros,
Soidões lacustres...
_ Lemes e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
_ Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
Vida
Choveu! E logo da terra humosa
Irrompe o campo das